Não conhecemos a inércia de um
amor pacífico.
Navegamos sempre na tempestade de
dias revoltos e noites tenebrosas de uma paixão insana.
Há dias cinzentos, quietos de
falsa placidez, em que as tempestades vão se formando...
Especialmente se você
desaparece...
A minha turbulência tem explosões
internas catastróficas.
A superfície serena abriga
crateras insondáveis de desespero.
Infindáveis, memoráveis...
Há dias luminosos, cegantes de
tanta luz.
Basta o seu reflexo no horizonte;
uma palavra, um gesto, um som faz claridade.
Mas estas sinapses vão se
tornando mais escassas...
E retornam os dias de
tempestade... tão frequentes, tão comuns...
Eu até prefiro esses... pelo
menos trazem o estrondo da sua presença...
E não há tréguas, porque os dias
inertes nunca foram de paz.
E há um sentimento abrasador que
não arrefece...
As idas e vindas dos nossos
desejos são como as marés. Não as marés calmas...
Mas aquelas forjadas nos
maremotos...
Quando chegam arrasam o que
alcançam.
Quando se vão levam tudo... em
destroços!
Rodopiar nesses redemoinhos não é
uma escolha.
Todos os dias a tempestade se
forma ao anoitecer, enreda-me nas malhas do tempo, e, sem tempo, vou sendo
levada, até ancorar em sono revolto, sem sonhos, povoado de escuridão.
Todos os dias abro os olhos, na
madrugada, e entro na ciranda macabra de contar os dias infortunados da sua
ausência...
Há um movimento sísmico de
tremores internos e temores externos que me empurram eficazmente na direção do
dever cumprido, das responsabilidades realizadas, das tarefas terminadas e das
normalidades exigidas diuturnamente.
Entretanto tudo termina no fim da tarde...
e vem a noite, com ela todos os
retornos, menos o seu! Assim não há inércia no sismógrafo.
Vera Lúcia Alves Mendes
Paganini (04/03/2017)