sábado, 4 de março de 2017

Inércia e movimento


Não conhecemos a inércia de um amor pacífico.
Navegamos sempre na tempestade de dias revoltos e noites tenebrosas de uma paixão insana.
Há dias cinzentos, quietos de falsa placidez, em que as tempestades vão se formando...
Especialmente se você desaparece...
A minha turbulência tem explosões internas catastróficas.
A superfície serena abriga crateras insondáveis de desespero.
Infindáveis, memoráveis...
Há dias luminosos, cegantes de tanta luz.
Basta o seu reflexo no horizonte; uma palavra, um gesto, um som faz claridade.
Mas estas sinapses vão se tornando mais escassas...
E retornam os dias de tempestade... tão frequentes, tão comuns...
Eu até prefiro esses... pelo menos trazem o estrondo da sua presença...
E não há tréguas, porque os dias inertes nunca foram de paz.
E há um sentimento abrasador que não arrefece...
As idas e vindas dos nossos desejos são como as marés. Não as marés calmas...
Mas aquelas forjadas nos maremotos...
Quando chegam arrasam o que alcançam.
Quando se vão levam tudo... em destroços!

Rodopiar nesses redemoinhos não é uma escolha.
Todos os dias a tempestade se forma ao anoitecer, enreda-me nas malhas do tempo, e, sem tempo, vou sendo levada, até ancorar em sono revolto, sem sonhos, povoado de escuridão.
Todos os dias abro os olhos, na madrugada, e entro na ciranda macabra de contar os dias infortunados da sua ausência...
Há um movimento sísmico de tremores internos e temores externos que me empurram eficazmente na direção do dever cumprido, das responsabilidades realizadas, das tarefas terminadas e das normalidades exigidas diuturnamente.
 Entretanto tudo termina no fim da tarde...
e vem a noite, com ela todos os retornos, menos o seu! Assim não há inércia no sismógrafo.


Vera Lúcia Alves Mendes Paganini (04/03/2017)

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