Uma
flor no mármore
Apenas uma crônica cotidiana...
Nasceu no mármore do piso.
Uma flor!
A mãe sem poder fazer nada.
Curiosos e solidários socorrendo.
E o tempo do socorro imóvel.
Uma menina nasceu, no mármore frio
da entrada da maternidade...
Sim! Na recepção da maternidade...
A mãe veio em busca da mãe que não poderia entrar.
Depois da entrada interna,
A mãe da mãe não vai...
Terá que ir sozinha, ser mãe...
Foi atendida na triagem:
- Preciso falar com a minha mãe!
- Só se for na recepção!
Volta a mãe em busca da mãe...
Avisá-la de que não poderá entrar...
Três mulheres no desamparo.
A pequena que ainda nem viu a luz
deste mundo, precisa saber moderar...
verá a avó só na recepção...
resolve encurtar o problema...
a bolsa estoura, o povo grita,
e ela nasce!
O fim do trajeto é o mármore.
Curiosos, assustados, os presentes gritam:
- Socorro! Ajuda! Alguém, gente!!!
O segurança da porta, no seu papel de segurança,
Segura a mãe. Alguém segura a criança.
Tira do solo de mármore,
Traz para o colo materno.
Aí então vem maca, enfermeira, ajuda!
Ajudar em quê? Para quê?
Repare no detalhe: três mulheres desamparadas.
Condição: pobres, necessitadas do serviço público...
(De que têm todo direito!)
Cor da pele: negra. Isso faz diferença?
Rá! Você não fez esta pergunta!
As duas? Passam bem!
A avó? Cuidando. Nem foi quem fez a denúncia...
Ela conhece os caminhos...
Ela trilha estas veredas TODOS os dias...
A mãe? Falou de constrangimento,
Falou de privacidade...
Mas falou das alegrias de ser mãe...
Mas falou tudo isso...
Com a cara e a coragem...
Porque estava no jornal!
Foi matéria de notícia,
Da curiosidade popular.
A florzinha? Chora e mama
Sem saber como será!
Vera Lúcia – 05/12/2019
(Maternidade Dona Íris - Goiânia)
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