Há uma
brisa gelada envolvendo minha alma
E mãos de
gelo apertando o meu coração.
Há um
grito de neve preso à minha garganta.
E um
vendaval de granizo fustigando os meus desejos.
Um desespero
negro me paralisa.
Uma dor
inominável transforma-me em estátua.
Hoje é um
dia em que a areia movediça me chama,
Desço um
abismo interminável
e não
encontro saída...
Eu sei
onde quero ir
Eu sei
onde deveria estar
Eu sei o
grito que não será emitido
Só não sei
sair desse abismo.
O meu
peito queima.
Eu espero
um toque, um vestígio, uma voz...
Eu espero
um movimento único no tabuleiro...
Mas as
peças continuam em seus nichos...
E o
destino congelado é o que o tempo me reserva.
Eu aguardo
um sinal... mas não vem...
Um fogo
devastador incendeia as minhas entranhas...
Mas não
derrete o gelo. Só avoluma a insuportável dor.
Por fora o
mundo se desenvolve, normalmente.
Por dentro
vou desmoronando pouco a pouco.
“Nem fiquei triste, porque acabei de receber uma notícia que
supera todas”
Mas a notícia não chegou a mim...
As notícias não chegam...
E eu vou morrendo um dia de cada vez no escuro.
E morro ainda mais por saber que já foi a minha vida...
E é a minha vida que se escoa lentamente...
E acontece, paulatinamente...
Desde o momento em que deixei o vento do Norte chegar...
Trazendo os seus vendavais...
Desmanchando o meu cabelo,
Embaralhando as ideias,
Desconcertando as vontades,
Explodindo os meus desejos...
(Vera Lúcia, 03/03/2020)