terça-feira, 3 de março de 2020

Quando chegam os ventos do Norte...






Há uma brisa gelada envolvendo minha alma
E mãos de gelo apertando o meu coração.
Há um grito de neve preso à minha garganta.
E um vendaval de granizo fustigando os meus desejos.

Um desespero negro me paralisa.
Uma dor inominável transforma-me em estátua.
Hoje é um dia em que a areia movediça me chama,
Desço um abismo interminável
e não encontro saída...

Eu sei onde quero ir
Eu sei onde deveria estar
Eu sei o grito que não será emitido
Só não sei sair desse abismo.
O meu peito queima.

Eu espero um toque, um vestígio, uma voz...
Eu espero um movimento único no tabuleiro...
Mas as peças continuam em seus nichos...
E o destino congelado é o que o tempo me reserva.

Eu aguardo um sinal... mas não vem...
Um fogo devastador incendeia as minhas entranhas...
Mas não derrete o gelo. Só avoluma a insuportável dor.
Por fora o mundo se desenvolve, normalmente.
Por dentro vou desmoronando pouco a pouco.

“Nem fiquei triste, porque acabei de receber uma notícia que supera todas
Mas a notícia não chegou a mim...
As notícias não chegam...
E eu vou morrendo um dia de cada vez no escuro.
E morro ainda mais por saber que já foi a minha vida...
E é a minha vida que se escoa lentamente...

E acontece, paulatinamente...
Desde o momento em que deixei o vento do Norte chegar...
Trazendo os seus vendavais...
Desmanchando o meu cabelo,
Embaralhando as ideias,
Desconcertando as vontades,
Explodindo os meus desejos...

(Vera Lúcia, 03/03/2020)

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