(Para este evento, havia outras chamadas - 02/04/2022)
Chove no meu coração
uma tempestade branda;
Não traz trovoadas nem
raios...
Não vem devastando tudo...
Mas chove minando lento, as alegrias risonhas.
Transforma tudo em
saudade.
Pranteando minha tarde
calma.
Chove de modo neutro;
encharca de pranto a vida;
Não vem para brotar
flores e não traz a primavera...
É um pranto de outono
com prenúncio de inverno...
Inverno longo e sem
sol, que só quem conhece entende.
Não é estação esperada,
é um desastre ecológico.
E escurece mansamente
toda a luz do que já foi.
Chove no meu coração e
eu não posso fazer nada...
As capas e os capuzes
sofreram a ação do tempo...
Estão rotos e rasgados,
por mal de conservação.
Vou me despindo das
asas e sofrendo as intempéries.
Um dia tinha que ser, e
agora chegou o dia.
Seguro a alma nas mãos
e deixo a chuva cair.
O que se pode fazer? O
que se deve fazer?
Nas chuvas do coração,
a razão não pode entrar!
Deixo de fora a razão,
que escorram, paixões rebeldes!
A vida não é poesia, é
feita de narrativas.
- E todas as narrativas
têm começo-meio-e-fim.
Diz o cérebro pensante
quando vê os desatinos
Que comete o coração,
esse louco apaixonado.
Essa tal de poesia, que
encanta os tresloucados
É efeito de paixões de coração desatinado!
É por ele que os
invernos capitulam sob o sol
O bendito sol brilhante
que instiga a primavera.
E que enfrenta as geleiras,
enxuga o pranto chuvoso.
Vem brilhante sobre os
tópicos e liberta a poesia.
E a vida recomeça cada
vez que ela acontece...
Novos sonhos, luz nos
olhos que aquece o coração;
Avisado pelo cérebro,
faz muxoxo e cai de novo.
Poetiza poesia, vibra,
acende e se liberta.
Comete incríveis
loucuras e se faz todo de rimas.
Refloresce musical e lá
se vai paixão a fora.
Mas o inverno é
implacável e o coração sabe disso.
Um dia ele chegará,
trazendo as águas cruéis
Da chuva que não
escolhe dia, hora ou lugar.
Então confrange outra
vez e o pranto corre em bicas.
Mas não importa! Se o
fogo, o calor, a luz e o brilho
Invadiram toda a alma e a vida valeu a pena!!!
Chove no meu coração
numa torrente sem fim...
E, pressinto, é chuva
densa, sem tempestade e furor...
É somente aquela chuva
de fim de tarde e repouso...
Dos olhos que viram
tudo o que vida pode dar.
E tudo valeu a pena!
Mas a vida é narrativa.
É chegado o momento de
se entregar à umidade
Da despedida de tudo e
o serenar das brumas.