domingo, 3 de abril de 2022

Chove no meu coração...

(Para este evento, havia outras chamadas - 02/04/2022)


 

Chove no meu coração uma tempestade branda;
Não traz trovoadas nem raios...
Não vem devastando tudo...
Mas chove minando lento, as alegrias risonhas.
Transforma tudo em saudade.
Pranteando minha tarde calma.
 
Chove de modo neutro; encharca de pranto a vida;
Não vem para brotar flores e não traz a primavera...
É um pranto de outono com prenúncio de inverno...
Inverno longo e sem sol, que só quem conhece entende.
Não é estação esperada, é um desastre ecológico.
E escurece mansamente toda a luz do que já foi.
 
Chove no meu coração e eu não posso fazer nada...
As capas e os capuzes sofreram a ação do tempo...
Estão rotos e rasgados, por mal de conservação.
Vou me despindo das asas e sofrendo as intempéries.
Um dia tinha que ser, e agora chegou o dia.
Seguro a alma nas mãos e deixo a chuva cair.
 
O que se pode fazer? O que se deve fazer?
Nas chuvas do coração, a razão não pode entrar!
Deixo de fora a razão, que escorram, paixões rebeldes!
A vida não é poesia, é feita de narrativas.
- E todas as narrativas têm começo-meio-e-fim.
Diz o cérebro pensante quando vê os desatinos
Que comete o coração, esse louco apaixonado.
 
Essa tal de poesia, que encanta os tresloucados
É efeito de paixões de coração desatinado!
É por ele que os invernos capitulam sob o sol
O bendito sol brilhante que instiga a primavera.
E que enfrenta as geleiras, enxuga o pranto chuvoso.
Vem brilhante sobre os tópicos e liberta a poesia.
 
E a vida recomeça cada vez que ela acontece...
Novos sonhos, luz nos olhos que aquece o coração;
Avisado pelo cérebro, faz muxoxo e cai de novo.
Poetiza poesia, vibra, acende e se liberta.
Comete incríveis loucuras e se faz todo de rimas.
Refloresce musical e lá se vai paixão a fora.
 
Mas o inverno é implacável e o coração sabe disso.
Um dia ele chegará, trazendo as águas cruéis
Da chuva que não escolhe dia, hora ou lugar.
Então confrange outra vez e o pranto corre em bicas.
Mas não importa! Se o fogo, o calor, a luz e o brilho
Invadiram toda a alma e a vida valeu a pena!!!
 
Chove no meu coração numa torrente sem fim...
E, pressinto, é chuva densa, sem tempestade e furor...
É somente aquela chuva de fim de tarde e repouso...
Dos olhos que viram tudo o que vida pode dar.
E tudo valeu a pena! Mas a vida é narrativa.
É chegado o momento de se entregar à umidade
Da despedida de tudo e o serenar das brumas.
 
 

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