Às páginas tantas
do livro de histórias da vida,
Duas almas gêmeas coincidiram
seus capítulos...
E acharam-se de se
encantar...
Ele trazia de
longas jornadas longas histórias...
Ela trazia longas
histórias de longas jornadas...
Que eram de cada
um.
E que não eram
suas.
Mas o que importa?
Encontraram-se!
Era a chegada de
tantas partidas...
E coincidiram!
No gesto, no traço
e no olhar...
E uma história terceira,
intrusa, interdita,
passou a ser
escrita.
Numa escrita ágrafa
e agramatical.
Sem contornos, sem
domínios e sem leis.
Só sentimentos!
Mas também sem
volta!
E no livro de
histórias da vida os capítulos progrediram...
Atropelados...
Ora corridos... ora
perdidos no tempo.
E, em lapsos de
felicidade,
Nos retalhos de
paraíso,
a vida a pulsar plenamente.
Porque “... a terra
atrasa e os sons diminuem”
quando seus
universos se cruzam.
E então se ouve a
eternidade insinuando-se pelas veias.
Peripécias, conflitos
e tramas... Com dramas!
Ciúmes. Quem disse
que o ciúme é mortal?
Às vezes,
paralisante. Mas não mata. Só machuca.
E provoca
dissabores.
Distâncias, tristezas
saudades, regressos
saídas, silêncios...
Desistência,
insistência...
Desencontros,
reencontros.
Ansiedades. Uma
alma busca a outra sem tréguas.
Intervalos, hiatos.
Os caminhos às
vezes se alargam...
cada um fica de um
lado da estrada
que não se
atravessa.
Dores silenciosas
habitam seus dias.
E os capítulos se
acumulam.
Não há retornos
porque os caminhos
já se cruzaram
as veredas se
estreitaram,
em trilhas se
entrelaçaram
e isso fechou o ciclo.
Se esta vida deu a chance,
é porque deveriam
se encontrar.
No livro dos
recomeços muitas páginas se contam.
Com a mesma
ladainha,
Com a mesma
sinfonia,
Com os mesmos
recortados
entrecortes de
suspiros e silêncios.
Quem disse que
almas gêmeas são gêmeas de harmonias?
Às vezes se
desgovernam em descaminhos pequenos,
Em arrufos amuados,
Por conta de coisa pouca,
multiplicam dissabores.
Mas vivem
afinidades sobre gostos e interesses.
E segredos...
E paixão...
Deslumbramentos...
Admiração...
(admiram-se
mutuamente).
Aquele sexto
sentido
Que avisa da grande
falta,
Que avisa da grande
ausência,
Que promove os
reencontros,
Nem que seja em
pensamentos;
Aquela presença
ausente
Que faz transbordar
vazios
De todas as horas
do dia,
De todo tempo da
noite
Acordados ou em
sonhos...
Não dorme, está
sempre alerta!
Na jornada se
confundem
Cartinhas de muito
amor,
Poemas de tanto
querer,
Mensagens em
guardanapos,
Avisos subliminares,
Códigos de textos
cifrados,
Textos em códigos secretos...
Textos em códigos secretos...
Sorrisos de coisas
mínimas,
Doçuras de encontros
loucos,
Loucuras de
encontros tortos
Na surpresa da
espera.
Outras vezes se
escondem
Sentimentos mal
sentidos,
Conversas
entrecortadas,
Transgressões não
transgredidas
e desesperos de
sonhos.
Arroubos de
ansiedades pela falta da presença,
Criancices de
adultos que inventam de se apaixonar.
Mas não há cerca e
reserva,
Se o caminho é de
almas gêmeas...
E o livro de
histórias da vida
vai cumprindo o seu
destino.
Anotando em cada
página
Sucessos e
insucessos
De mais esta
caminhada
Nas veredas da eternidade
De duas almas
confusas,
Que se buscam e se
perdem
Mas sem nunca
desistir.
Os dias transcorrem
turvos,
Em novelos
enovelados...
Cada um por sua
parte,
Procura normalizar
O que nunca foi
normal.
Está visto, não
conseguem!
E as torrentes
extrapolam
Os diques bem
construídos,
Arrebentam
corredeiras,
Sem rumor e sem
alarde.
Um dia, de tanto
sentir,
Um dia, de tanto
guardar,
Um dia, de tanto
amor,
Um dia, de tanto
esperar,
Levantarão as
amarras,
E, num voo
libertador,
Deixarão tudo pra
trás...
Tudo que não for de
si.
E contarão um com o
outro,
E contarão um pro
outro,
Pelas contas do
rosário
Que desfia suas
sinas,
A história de amor
sem fim
Escrita no livro da
vida,
Escrita no livro de
histórias
que se contam dos
destinos
de cada alma
contada,
de cada alma
encontrada,
de cada alma
perdida,
que passou além da
vida,
para encontrar sua
outra
indiscutível
metade.
Que sem ela nada
vale,
Nem terços, nem
ladainha,
Nem reza, nem
penitência...
Muito além de tudo
isso,
Só conta a
natureza,
a forma e o conteúdo,
de um que se
acomoda
na natureza do
outro,
como um vaso que
recebe
a essência que o
completa;
até que de tanto
ser,
até que de muito
sentir,
até que na perfeição
tudo isso se
confunda
e o mistério a se
fundir
numa única verdade
de duas almas
distintas
moldando-se
eternamente
numa única certeza
de terem, por todo
o sempre,
sido dois pedaços
soltos,
à procura do
encontro
que em momento
supremo,
no gesto mais
ancestral
da busca da unidade,
juntam-se esses
dois pedaços,
numa natureza só,
totalmente
indivisível.
E na pauta do
destino,
E no último
capítulo,
Fecha-se o livro de
histórias
Que conta as
histórias da vida,
De duas almas
unidas,
No selo de além do
tempo,
Para a última
viagem
Do traçado
indelével,
Escrito antes de
ser,
No retorno ao princípio,
Da pura forma de
origem
Co’a última linha
do epílogo,
Do livro de
histórias da vida.
Vera Lúcia
(15/01/2018)
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