Existem as gentes graves
Com passos compassados,
Gestos fleumáticos.
Cerimoniosas,
Elegantes, garbosas, distintas...
Fazem da vida uma operação séria.
Têm certa dificuldade em sorrir.
E têm aquelas agudas
Diretas
De pontaria fina,
Que vão à raiz do problema.
Atingem o alvo,
Resolvem,
Operam.
Às vezes são incomodamente certas.
E existem as obtusas
“arredondadas”
Que “arrodeiam” o riscado.
De jeito rude, bronco, estúpido.
Amuadas, desajeitadas,
Numerosas, atrapalham...
Enovelam a vida em rolos.
E as retas, eretas, bem feitas, perfeitas...
Pelo menos no que julgam de si!
Não fogem da linha marcada,
Não “saem da linha” na vida,
Ignoram as curvas e os círculos...
Só sabem olhar pra frente,
Fazer o esquematizado,
Riscar o bordado a régua.
Mas existem as oblíquas...
Que a matemática não explica,
Que o português não evita,
Que a literatura acata, abriga, ajeita,
possibilita...
Que a música compõe,
Que a pintura dispõe ,
a escultura arremata,
e a poesia conflui.
Líquidas... diáfanas...
Têm ares de lua nova,
Têm artes de bruxaria,
Têm gestos de enseada,
E “olhos de ressaca”.
Não sabem de números e contas...
Mas desfolham as contas do rosário
e as areias do tempo, e as estrelas do céu
olhando a vida passar.
(Vera Lúcia – 18/05/2016)
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